::: Relações Históricas :::
Primeiro encontro do Japão com o mundo
ocidental
A
25 de Agosto de 1543, um barco
arribou à costa do Cabo Kadokura no
extremo-sul da Ilha Tanegashima. O
então Senhor de Tanegashima,
Tokitaka Tanegashima, deteve o olhar
nas armas de fogo desconhecidas,
possuídas pelos portugueses a bordo,
e adquiriu duas dessas armas ao
preço de 2000 ryōs (ryō era a
unidade monetária japonesa nessa
época e um ryō equivaleria
atualmente a umas centenas de
euros).
O
que resultou deste grande
acontecimento civilizacional é de
certa forma refletido na expressão
japonesa “Teppō-Denrai”, que
significa, literalmente, “chegada da
espingarda”, e, num sentido mais
amplo, representa também as
múltiplas novidades e os valores
culturais que os portugueses
introduziram na vida quotidiana dos
japoneses. O “Teppō-Denrai” marca,
assim, o início das relações de
amizade entre os dois países,
prolongando-se já por 470 anos.
Portugal é, pois, o país europeu com
a mais longa história de intercâmbio
com o Japão, embora o Japão contasse
já com extensas ligações com outros
países asiáticos, como a China e a
Coreia.
Comércio “Nanban” (ou “Nanban Bōeki”) ―
intercâmbio comercial entre o Japão e
Portugal ―
O
primeiro encontro em Tanegashima também
marcou o início das trocas comerciais entre
o Japão e os portugueses, na altura chamados
pelos japoneses “Nanban-jin”, palavra que
literalmente significa “bárbaros do sul”, e
que era nessa usada identificar os
portugueses e os espanhóis. O comércio entre
os japoneses e os “Nanban-jin” passou,
então, a ser designado “Nanban Bōeki”.
Nesse
tempo, os portugueses traziam espingardas,
pólvora, seda crua da China, entre outras
mercadorias, e o Japão exportava para
Portugal, prata, ouro, catanas (sabre
japoneses) e outro produtos.
Quanto às
espingardas trazidas pelos portugueses, os
japoneses, através de várias experiências e
tentativas, conseguiram estabelecer o seu
próprio método de fabrico e começar a
produzir em massa nalguns locais do Japão
como Sakai, perto de Osaka. A aptidão do
povo japonês para a tecnologia de ponta que
se comprova nos dias de hoje nas áreas, por
exemplo, do fabrico de automóveis, na
exploração de robôs etc., já se denotava
naquele tempo.
Vestígios deixados pelo intercâmbio entre os
dois países
Através das relações entre os dois
países, novos vocábulos entraram na
língua japonesa, juntamente com os
produtos que não existiam no Japão.
Podemos citar, entre outros, o “pan”
(pão), o “koppu” (copo), o “botan”
(botão), o “tabako” (tabaco), o
“shabon” (sabão) etc. Estas palavras
de origem portuguesa, ainda se
mantêm em japonês e são utilizadas
na vida quotidiana. Por outro lado,
existem em português palavras como
“biombo” e “catana” oriundas do
vocabulário japonês, apesar de
ligeiras alterações na pronúncia,
como é natural.
Na culinária também existem pratos
de origem portuguesa que foram
trazidos para o Japão. Por exemplo,
“Kasutera”, especialidade de
Nagasaki, desenvolveu-se a partir do
pão-de-ló português. Outro tipo de
doce japonês chamado “Konpeitō”
também tem a sua origem em Portugal,
proveniente da palavra “confeito”.
Entretanto, o doce chamado “Maru-booro”,
que se consome bastante na região de
Saga e em algumas outras zonas de
Kyūshū, no sul do Japão, é um doce
japonês originário também de
Portugal, como se vê pela palavra “booro”,
que veio da palavra portuguesa
“bolo”. Ainda, o prato japonês “Tenpura”,
agora mundialmente reconhecido como
prato típico japonês, atribui-se,
muito provavelmente, o seu nome ao
termo religioso português “(Quatro)
Têmpora(s)”, que indica o início de
cada estação em que se aconselhava o
consumo de legumes ou peixe em vez
de carne.
Outro exemplo que
retrata bem a história do
intercâmbio entre o Japão e Portugal
é o “Nanban Byōbu”, ou Biombo “Nanban”.
O “Nanban Byōbu” descreve cenas da
chegada dos portugueses, ou “Nanban-jin”,
ao Japão. O “Nanban Byōbu” é uma
excelente e sofisticada peça de
arte, mas também é um verdadeiro
testemunho dos costumes daquela
época. Entre outros museus,
atualmente em Portugal, os “Nanban
Byōbu”, originários do Japão,
encontram-se conservados e expostos
no Museu Nacional de Arte Antiga, em
Lisboa, e no Museu Nacional Soares
dos Reis, no Porto.
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Biombo “Namban” ― Coleção do Museu
Nacional de Arte Antiga
Arte Namban, escola de Kano, sec.
XVI-XVII (1593 -1600)
Pintura a têmpora s/papel de
amoreira revestido a folha de ouro,
laca, seda, cobre
Fotografia de Francisco Martins
Direcção –Geral do Património
Cultural/Divisão de Documentação,
Comunicação e Informática
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Missão “Tenshō” para a Europa
Um dos
acontecimentos mais marcantes na história do
intercâmbio entre os dois países é
seguramente a Missão “Tenshō” do Japão para
a Europa. Em 1549, os missionários cristãos,
incluindo São Francisco Xavier, chegaram a
Kagoshima, no sul do Japão, e encetaram a
primeira missão de evangelização no Japão.
Os três “Daimyōs” ou senhores feudais
japoneses cristianizados, nomeadamente,
Otomo, Arima e Omura, delegaram, mediante os
preparativos do padre Alessandro Valignano,
uma missão cristã para se deslocar junto do
Papa em Roma. A missão era composta por
quatro jovens missionários japoneses, entre
os quais figuravam Ito Mancho e Chijiwa
Miguel como missionários principais, e Hara
Martinão e Nakaura Julião como missionários
assistentes. Todos eles, na altura, tinham
apenas entre treze e catorze anos.
Os quatro
jovens partiram do porto de Nagasaki e,
passando por Macau e Goa, onde os
portugueses já tinham criado os seus
entrepostos, chegaram a Lisboa em Agosto de
1584. Em Portugal, visitaram a Igreja de São
Roque, o Mosteiro dos Jerónimos, e outros
lugares como Sintra, Évora etc. Atravessando
a Espanha, a Missão chegou a Roma em 1585,
tendo ali uma audiência com o então Papa
Gregório XIII. Depois de terem visitado
várias cidades italianas, embarcaram em
Lisboa, em Abril de 1586, de regresso ao
Japão. Em 1590, 8 anos depois de ter partido
do Japão, a Missão “Tenshō” para a Europa,
regressa ao Japão, trazendo diversas
“ofertas” do Ocidente, como uma máquina de
tipografia e outros objetos, bem como novas
experiências de diferentes culturas. |