2013 - 470 Anos de Amizade Portugal-Japão - Embaixada do Japão

 

::: Relações Históricas ::: 

 

Primeiro encontro do Japão com o mundo ocidental

A 25 de Agosto de 1543, um barco arribou à costa do Cabo Kadokura no extremo-sul da Ilha Tanegashima. O então Senhor de Tanegashima, Tokitaka Tanegashima, deteve o olhar nas armas de fogo desconhecidas, possuídas pelos portugueses a bordo, e adquiriu duas dessas armas ao preço de 2000 ryōs (ryō era a unidade monetária japonesa nessa época e um ryō equivaleria atualmente a umas centenas de euros).

O que resultou deste grande acontecimento civilizacional é de certa forma refletido na expressão japonesa “Teppō-Denrai”, que significa, literalmente, “chegada da espingarda”, e, num sentido mais amplo, representa também as múltiplas novidades e os valores culturais que os portugueses introduziram na vida quotidiana dos japoneses. O “Teppō-Denrai” marca, assim, o início das relações de amizade entre os dois países, prolongando-se já por 470 anos.

Portugal é, pois, o país europeu com a mais longa história de intercâmbio com o Japão, embora o Japão contasse já com extensas ligações com outros países asiáticos, como a China e a Coreia.

 

Comércio “Nanban” (ou “Nanban Bōeki”) ― intercâmbio comercial entre o Japão e Portugal ―

O primeiro encontro em Tanegashima também marcou o início das trocas comerciais entre o Japão e os portugueses, na altura chamados pelos japoneses “Nanban-jin”, palavra que literalmente significa “bárbaros do sul”, e que era nessa usada identificar os portugueses e os espanhóis. O comércio entre os japoneses e os “Nanban-jin” passou, então, a ser designado “Nanban Bōeki”.

Nesse tempo, os portugueses traziam espingardas, pólvora, seda crua da China, entre outras mercadorias, e o Japão exportava para Portugal, prata, ouro, catanas (sabre japoneses) e outro produtos.

Quanto às espingardas trazidas pelos portugueses, os japoneses, através de várias experiências e tentativas, conseguiram estabelecer o seu próprio método de fabrico e começar a produzir em massa nalguns locais do Japão como Sakai, perto de Osaka. A aptidão do povo japonês para a tecnologia de ponta que se comprova nos dias de hoje nas áreas, por exemplo, do fabrico de automóveis, na exploração de robôs etc., já se denotava naquele tempo.

 

Vestígios deixados pelo intercâmbio entre os dois países

Através das relações entre os dois países, novos vocábulos entraram na língua japonesa, juntamente com os produtos que não existiam no Japão. Podemos citar, entre outros, o “pan” (pão), o “koppu” (copo), o “botan” (botão), o “tabako” (tabaco), o “shabon” (sabão) etc. Estas palavras de origem portuguesa, ainda se mantêm em japonês e são utilizadas na vida quotidiana. Por outro lado, existem em português palavras como “biombo” e “catana” oriundas do vocabulário japonês, apesar de ligeiras alterações na pronúncia, como é natural.

Na culinária também existem pratos de origem portuguesa que foram trazidos para o Japão. Por exemplo, “Kasutera”, especialidade de Nagasaki, desenvolveu-se a partir do pão-de-ló português. Outro tipo de doce japonês chamado “Konpeitō” também tem a sua origem em Portugal, proveniente da palavra “confeito”. Entretanto, o doce chamado “Maru-booro”, que se consome bastante na região de Saga e em algumas outras zonas de Kyūshū, no sul do Japão, é um doce japonês originário também de Portugal, como se vê pela palavra “booro”, que veio da palavra portuguesa “bolo”. Ainda, o prato japonês “Tenpura”, agora mundialmente reconhecido como prato típico japonês, atribui-se, muito provavelmente, o seu nome ao termo religioso português “(Quatro) Têmpora(s)”, que indica o início de cada estação em que se aconselhava o consumo de legumes ou peixe em vez de carne.

Outro exemplo que retrata bem a história do intercâmbio entre o Japão e Portugal é o “Nanban Byōbu”, ou Biombo “Nanban”. O “Nanban Byōbu” descreve cenas da chegada dos portugueses, ou “Nanban-jin”, ao Japão. O “Nanban Byōbu” é uma excelente e sofisticada peça de arte, mas também é um verdadeiro testemunho dos costumes daquela época. Entre outros museus, atualmente em Portugal, os “Nanban Byōbu”, originários do Japão, encontram-se conservados e expostos no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, e no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

 

 

 

Biombo “Namban” ― Coleção do Museu Nacional de Arte Antiga

Arte Namban, escola de Kano, sec. XVI-XVII (1593 -1600)

Pintura a têmpora s/papel de amoreira revestido a folha de ouro, laca, seda, cobre

Fotografia de Francisco Martins

Direcção –Geral do Património Cultural/Divisão de Documentação, Comunicação e Informática

 

 

Missão “Tenshō” para a Europa

Um dos acontecimentos mais marcantes na história do intercâmbio entre os dois países é seguramente a Missão “Tenshō” do Japão para a Europa. Em 1549, os missionários cristãos, incluindo São Francisco Xavier, chegaram a Kagoshima, no sul do Japão, e encetaram a primeira missão de evangelização no Japão. Os três “Daimyōs” ou senhores feudais japoneses cristianizados, nomeadamente, Otomo, Arima e Omura, delegaram, mediante os preparativos do padre Alessandro Valignano, uma missão cristã para se deslocar junto do Papa em Roma. A missão era composta por quatro jovens missionários japoneses, entre os quais figuravam Ito Mancho e Chijiwa Miguel como missionários principais, e Hara Martinão e Nakaura Julião como missionários assistentes. Todos eles, na altura, tinham apenas entre treze e catorze anos.

Os quatro jovens partiram do porto de Nagasaki e, passando por Macau e Goa, onde os portugueses já tinham criado os seus entrepostos, chegaram a Lisboa em Agosto de 1584. Em Portugal, visitaram a Igreja de São Roque, o Mosteiro dos Jerónimos, e outros lugares como Sintra, Évora etc. Atravessando a Espanha, a Missão chegou a Roma em 1585, tendo ali uma audiência com o então Papa Gregório XIII. Depois de terem visitado várias cidades italianas, embarcaram em Lisboa, em Abril de 1586, de regresso ao Japão. Em 1590, 8 anos depois de ter partido do Japão, a Missão “Tenshō” para a Europa, regressa ao Japão, trazendo diversas “ofertas” do Ocidente, como uma máquina de tipografia e outros objetos, bem como novas experiências de diferentes culturas.      

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