Relações Bilaterais - Intercâmbio Histórico
2016/9/1

✎ O primeiro encontro do Japão com o mundo ocidental
As relações mútuas de intercâmbio entre os dois países, que iriam durar mais de 460 anos, começaram no momento em que os portugueses chegaram à Ilha de Tanegashima em 1543. Isto marcou o primeiro encontro histórico do Japão com o mundo ocidental, embora o Japão já tivesse uma longa história de contactos com os países asiáticos tais como a China e a Coreia.✎ Comércio “Nan-ban” (ou “Nan-ban Bo-eki”) ─ intercâmbio comercial entre Portugal e o Japão
As actividades comerciais entre os dois povos designavam-se, no Japão, “Nan-ban Bo-eki”, pois os portugueses, tal como os espanhóis, na altura eram chamados “Nan-ban Jin” (bárbaros do sul) pelos japoneses. Nesse comércio, os portugueses traziam espingardas, pólvora, seda crua da China etc. para o Japão, e o Japão exportava prata, ouro, catanas (sabres japoneses) etc. para Portugal.As espingardas trazidas pelos portugueses espalharam-se rapidamente como arma de ponta entre os senhores feudais do Japão. O surgimento da infantaria equipada de espingardas surtiu uma mudança drástica na táctica de guerra no Japão, que até a essa altura dava maior importância à cavalaria tradicional, e, consecutivamente, introduziu uma influência de enorme importância no estilo de construção dos castelos enquanto instalações de defesa.
✎ Vestígios deixados pelo intercâmbio
O intercâmbio entre os dois países trouxe novos vocábulos para ambas as línguas. Do português para o japonês, por exemplo, pan (pão), koppu (copo), botan (botão), tabako (tabaco), shabon (sabão), etc. e do japonês para o português, biombo (byoobu), catana (katana), etc..Entretanto, na área da culinária, alguns novos pratos foram trazidos de Portugal para o Japão. Por exemplo, segundo alguns autores, um bolo japonês chamado “kasutera”, diz-se ter sido desenvolvido a partir do pão-de-ló português. Outro tipo de bolo japonês chamado “konpeitoo” também tem nitidamente a sua origem portuguesa, proveniente do “confeito”. Estes bolos ainda encontram-se no dia-a-dia dos japoneses. Até o prato japonês mundialmente conhecido nos dias de hoje, a “Tenpura”, também se diz encontrar a sua etimologia no termo religioso português “(Quatro) Têmporas”, indicando uma época antes da Páscoa em que é aconselhado comer pratos de peixe e legumes como o de “Tenpura”, assim evitando o consumo de carne.
Um outro exemplo demonstrando os vestígios do intercâmbio histórico é o “Nan-ban Byoobu” (Biombo Nan-ban). Trata-se de um biombo, cujo desenho descreve os portugueses aquando das suas viagens ao Japão, e constitui um registo científico muito importante para conhecer as maneiras, os usos e costumes dos japoneses nessa época. Algumas peças de “Nan-ban Byoobu” estão ainda preservadas e expostas no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa) bem como no Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto).
✎ Missão “Tenshō” para a Europa (1582~86)
Um dos pontos mais marcantes na história dos eventos que ocorreram entre os dois países é seguramente a delegação da “Missão Tenshō” do Japão para a Europa. Em 1549, os missionários jesuítas, incluindo São Francisco Xavier, chegaram a Kagoshima, no sul do Japão, e encetaram a primeira missão de evangelização no Japão. Os três “Daimyōs”, ou senhores feudais japoneses cristianizados, Otomo, Arima e Omura, delegaram uma missão cristã para ir junto do Papa em Roma, mediante os preparativos do padre Alessandro Valignani. A missão era composta por quatro jovens missionários japoneses, entre os quais figuravam Ito Mancho e Chijiwa Miguel como missionários principais, e Hara Martino e Nakaura Julian como assistentes. Todos eles tinham apenas entre treze e catorze anos.Os quatro jovens partiram da cidade de Nagasaki, no Japão, e, passando por Macau e Goa, chegaram a Lisboa em Agosto de 1584. Em Portugal, foram visitar, segundo o arquivo, a Igreja de São Roque e o Mosteiro dos Jerónimos e também outros lugares como Sintra, Évora etc.. Em Espanha, foram recebidos por Filipe II, então Filipe I de Portugal. Na sequência desta viagem, a delegação dos missionários japoneses teve, finalmente, uma audiência com o Papa Gregório X em Roma. De regresso ao Japão, partiram de Lisboa em Abril de 1586 chegando a Nagasaki em 1590.
✎ Era de“isolamento” do Japão
No século XVII, o Japão assumiu uma política de isolamento face aos países estrangeiros e proibiu, fundamentalmente, o intercâmbio e o contacto comercial com o mundo externo. Os barcos portugueses foram interditados a entrar nos portos japoneses em 1639. Esta política prolongou-se aproximadamente durante 200 anos, até que o Japão declarou a sua abolição em 1854.✎ Wenceslau de Moraes ─ eminente individualidade na apresentação do Japão
Wenceslau de Moraes (militar, diplomata e escritor) nascido em Lisboa em 1854, depois de ter servido como vice-comandante do Porto de Macau, instalou-se definitivamente no Japão em 1899 enquanto cônsul em Kobe. Permaneceu em Tokushima durante o resto da sua vida até falecer em 1929.Ao ficar com extrema admiração pelo Japão, Moraes começou a escrever artigos como correspondente regular do jornal ‘O Comércio do Porto’, a partir de 1902, e deu um grande contributo à divulgação do conhecimento e informações do Japão daquela época entre os cidadãos portugueses. As suas principais obras literárias são: “Alma Japonesa”, “Oyone e Koharu”, “O Culto do Chá”, “Tokushima no Bon-odori” entre outras, as quais desempenharam um papel incomparável no conhecimento do Japão pelos portugueses, realçando o seu sentimento de amizade para com os japoneses.
Em 2004, diversos eventos e espectáculos foram realizados, tanto em Portugal como no Japão, em comemoração dos 150 Anos do Nascimento de Wenceslau de Moraes. No Japão, foi erigida em Tokushima uma estátua de bronze em homenagem a Wenceslau de Moraes, por iniciativa da “Associação Japão-Portugal em Tokushima”. A estátua está virada para oeste, em direcção a Portugal, a sua terra natal.